Revista Escritos Negros

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“Os Meus Também Escrevem”

No segundo encontro realizado no centro cultural da juventude Ruth Cardoso, contamos com a presença do escritor, produtor cultural e MC Akins Kinte.
“Operário da vida diária, nos momentos vagos delicia, briga e enamora as palavras”, assim o jovem Akins se define, Autor do livro “Punga” co-autoria com Elizandra Souza (Edições Toró, 2007). Participou de coletâneas literárias como: GRAP antologia poética de jovens talentos (2007). Sarau Elo da Corrente “Prosa e Poesia Periférica (antologia 2008) editora elo da corrente. Negrafia edição um e dois. Participou do recital Negroesia com o escritor Cuti e direção de Beta Nunes apresentou na Casa das Rosas São Paulo e na livraria MAZZA Belo Horizonte. Idealizador, diretor, câmera e roteirista do curta “Vaguei nos livros e me sujei com a m... toda” (2007),dirigiu o documentário “Várzea a bola rolada na beira do coração (2010). Com toda essa bagagem Akins ainda detém o jeito simples e humilde do menino que entre as esquina, becos e livros das periferias conseguiu se formar enquanto homem e cidadão. Akins começa nosso encontro com uma calorosa poesia que chamou o público presente as reflexões que o mesmo traria naquela noite de domingo. Ele começou o encontro falando da importância da leitura e da escrita na época da escravidão, citando que os livros e a leitura era algo proibido aos escravizados, num intuito de deixar a população numa condição subalterna de subdesenvolvimento mental, e nos traz a memória, os ícones da abolição que foram homens letrados e puderam ajudar os negros na luta pela abolição como os Jornalistas José do Patrocínio e Luiz Gama, afirma que a grande arma desses líderes foi mesmo o fato deles aprenderem a ler e a escrever, rapidamente Akins conta a trajetória do jornalista e advogado Luiz Gama, que sozinho conseguiu a libertação de mais de 500 escravizados, isso depois de ter comprovado através de documentos que fora feito escravo quando criança e ter sido formado advogado autodidata, na época intitulado como “Rábula”. Numa abordagem mais ampla Akins afirmou também da dificuldade de reunir certos materiais, e indica que a tradição oral, fortemente presente nas culturas africanas, dificulta esse processo. Fazendo um passeio pela história Akins cita momentos fortes da reconstrução da literatura Negra, como a Frente Negra Brasileira, a Imprensa Negra e os Cadernos Negros, e encara esses movimentos que tem como arma a escrita como uma possibilidade de reencontro, forma de orgulho, “Os Meus Também escrevem”.  
Em seu 1º Documentario “Vaguei nos Livro e Me Sujei com a M... Toda”, Akins aborda a questão da literatura como ferramenta de libertação, tanto no Brasil na época colonial como a relação da literatura nas independências dos países africanos no final do Sec. 20.

[...]na escola persiste o estereótipo de preto escravo,
vaguei os livros e me sujei co a merda toda, conheci os quilombos,
seus heróis que se fodam[...]
Patota d’Firmino, Vaguei nos Livros e Me Sujei com a M... Toda

Falando um pouco sobre sua infância, cita algumas dificuldades encontradas, inicia afirmando que a literatura na escola tende e representa uma sociedade racista, pelo fato da associação do negro a pobreza, baixo intelecto e passividade. Após ter alguma consciência da sua raiz Akins nos confessa que começou mudar sua postura na escola como trabalhos relacionados a consciência negra, e lamenta ter sido várias vezes taxado de racista, por enfatizar o orgulho das origens.
            
[...] Valeu qualquer momento estamos indo pros ares
Valeu, somos o renascimento do Quilombo dos Palmares
Valeu a não miscigenação, o conselho dos ancestrais, pois
Valeu apanhá no tronco pelo remédio que você traz depois
Cura as neuroses, cura a dor e triste prosa
Valeu eu ser espinho dessa doce rosa
Valeu eu me entregar. Deus não pune quem se deu
Amei e fui amado e acredito que valeu...
Valeu?
Akins Kinte, Valeu, Punga Pg. 67
Kinte fala que a questão de manter a cultura viva é algo primordial e que o processo de miscigenação tenta a todo momento dividir os negros e por fim exterminá-los, dando continuidade ao projeto de transformar o Brasil em país europeu.
Quase concluindo Akins ainda desabafa que a luta pela sobrevivência é o que todos almejam, passar da sobrevivência para a vivência, com dignidade, situação distante da realidade da grande parte dos negros brasileiros, ainda mais nas comunidades onde o estado é representado apenas pela polícia.
Sobre a literatura periférica Akins fala da grande importância do inicio dos saraus, inclusive cita os Saraus Elo-da-Corrente, Cooperifa e Sarau da Brasa e se diz fiel freqüentador, porém tem algumas questões que o inquietam, como o fato de “a literatura periférica possa fazer com que a questão racial se perca”, e comenta que ás vezes se sente incomodado por trazer a questão para esses espaços. Falando de espaços Akins questiona a todos com a pergunta “Por que o sarau tem que ser mesmo no boteco?”, ainda nessa linha de raciocínio diz que os freqüentadores dos saraus acabam por tabela alimentando o sistema, no consumo de bebidas. Ironicamente afirma o lucro que os donos dos bares que hospedam o sarau tem a cada semana e questiona “porque esses caras não dão uma verba pra lançar um livro da rapaziada no fim do ano?”
Sobre o rap Akins fala pouco, mas lembra dos velhos tempos de ensaio com o pessoal do patota e diz que partiu mais pro lado da literatura por se tratar de algo mais fácil de fazer, onde poderia fazer sozinho, sem muito aparato.
Após essas reflexões Akins Juntou-se a rapaziada do Patota D’Firmino, grupo no qual faz parte, e proporcionou para a galera um gostoso ensaio aberto, cheio de música e poesia!

Manchei de preto a página branca
Quebrando as barreiras invisíveis
Invadi esses espaços que finge ser livre
Rabisquei interrogando e cheio de exclamação:
Se somos tantos! Onde estamos todos?
Entre parênteses e cheio de reticências
Colchetes tranca revolta em garrancho
Página branca oprime letras pretas
Pra não deixar de ser rascunho
E ter sempre dentro de si
Um ponto final

Akins Kinte, Enfoque Subjetivo, Punga Pg. 13


Texto: Israel Neto
Fotos: Arquivo Literatura Suburbana e Negra Ziza